O papel da família na psicomotricidade infantil: como apoiar o desenvolvimento da criança

O desenvolvimento infantil acontece em relação — no corpo, no brincar e no vínculo que dá segurança para crescer.

O desenvolvimento infantil é um caminho partilhado. Nenhuma criança cresce sozinha — cresce em relação.
Na psicomotricidade, esta relação é o ponto de partida e o fio que sustenta todo o processo terapêutico.

A terapia psicomotora é um espaço onde o corpo, o brincar e a emoção se encontram.
Mas é também um espaço de encontro entre a criança, a família e o terapeuta — um triângulo de confiança que se constrói sessão após sessão.


👨‍👩‍👧 A família como base de segurança

Nos primeiros tempos de acompanhamento, a presença da família é essencial para que a criança se sinta segura.
A criança precisa de tempo para reconhecer o espaço, a terapeuta e a nova rotina.
Quando o pai, a mãe ou outro cuidador permanece por perto, transmite estabilidade e confiança, ajudando a criança a explorar com curiosidade e menos medo.

Esta base de segurança não é apenas física — é também emocional.
A criança sente-se autorizada a brincar, experimentar e até frustrar-se, sabendo que há um adulto disponível e atento ao seu lado.
É a partir desse alicerce que o processo terapêutico começa verdadeiramente.


🤝 Uma parceria que se constrói

Com o tempo, a presença da família vai ganhando novas formas.
À medida que a criança se sente mais confiante, pode preferir explorar o espaço sozinha ou com a terapeuta, enquanto o cuidador observa ou aguarda.
Este afastamento gradual não é uma separação, mas uma confiança partilhada — sinal de que a criança começa a integrar dentro de si a segurança que antes vinha apenas do outro.

A comunicação entre terapeuta e família é fundamental.
Os pais conhecem melhor do que ninguém o quotidiano, as rotinas e as pequenas mudanças que acontecem fora da sala.
Partilhar essas observações permite ajustar o acompanhamento, reforçar conquistas e compreender comportamentos que muitas vezes têm origem em contextos emocionais.

As preocupações, dúvidas e emoções dos pais também têm espaço neste processo.
O terapeuta escuta e valida o que cada família sente, porque cuidar de uma criança implica também cuidar de quem cuida.
Quando os pais se sentem compreendidos e apoiados, o vínculo familiar torna-se mais forte — e a criança beneficia diretamente disso.


🏡 A continuidade fora da sala

As sessões de psicomotricidade decorrem, em média, uma vez por semana, com duração de cerca de 45 minutos.
É um tempo precioso — mas é apenas uma pequena parte de tudo o que a criança vive ao longo da semana.

Por isso, o que acontece fora da sala é tão importante quanto o que acontece dentro dela.
O desenvolvimento acontece nos gestos do dia a dia, nas brincadeiras em casa, nas rotinas e nas oportunidades de experimentar e ser escutada.

Pequenas atitudes — como dar tempo para vestir-se sozinha, brincar livremente, ou permitir que expresse emoções pelo corpo — prolongam e reforçam o trabalho feito na terapia.

Quando a família participa e se envolve, o processo ganha coerência.
A criança sente que o que acontece na terapia faz parte da sua vida, e não de um espaço isolado.
É nessa continuidade que o desenvolvimento se consolida.


🌱 Crescer juntos

O processo terapêutico é também um percurso de crescimento para a família.
É comum que, ao longo das sessões, pais e cuidadores redescubram novas formas de olhar a criança — menos centradas na dificuldade e mais focadas nas suas possibilidades.

A psicomotricidade convida a família a participar num movimento conjunto: compreender, acolher e acompanhar a criança na sua forma única de estar no mundo.
Porque quando a família se envolve, o corpo da criança ganha confiança, o vínculo fortalece-se e o desenvolvimento floresce — dentro e fora da sala.


📚 Referências

  • Fonseca, V. (2010). Psicomotricidade: Ensino e Terapia. Lisboa: Fim de Século.
  • Aucouturier, B. (2019). A Prática Psicomotora Educativa e Terapêutica: Fundamentos e Perspetivas. Éditions Érès.
  • Lapierre, A. & Aucouturier, B. (2004). O Corpo e o Inconsciente na Educação e na Terapia Psicomotora. Éditions Érès.
  • Almeida, A. & Simões, M. (2018). Psicomotricidade e Desenvolvimento Infantil. Porto: Porto Editora.
Alexandra Simões
Alexandra Simões

Licenciada e Mestre em Reabilitação Psicomotora pela Faculdade de Motricidade Humana. Atua desde 2017, quer em âmbito preventivo, como terapêutico. Tem vindo a desenvolver o seu trabalho, sobretudo nas áreas do neurodesenvolvimento e da saúde mental pediátrica, com foco na primeira infância. Defende que a intervenção tem tanto mais potencial, quanto maior a articulação entre os contextos da criança e que as pessoas mais capacitadas para promoverem o seu desenvolvimento são a própria família, que precisa apenas de ser orientada e acolhida.

Publicado em 4 de novembro de 2025

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